2007-11-24

Não me dêem crédito

Uma das coisas mais valiosas que recebi dos meus pais foi o não querer ficar a dever nada a ninguém. Não sendo eles, nem eu rico, a maior parte das vezes isto obrigava a reduzir as despesas. Mantendo as despesas em níveis compatíveis com os rendimentos, não é necessário ficar a dever.

Esta «riqueza» não é partilhada por muitos, nos dias que correm. As pessoas esquecem-se das prioridades. Vivem em função de necessidades que nem sempre são reais. As empresas de crédito florescem. A analogia melhor seria com ervas daninhas. Elas não dão flor e muito menos frutos.

As pessoas talvez não se esqueçam. Preferem pensar no prazer em comprar, esquecendo as provações de pagar. Principalmente, ignorando que, se neste momento não ganham o suficiente para pagar certos luxos, não será mais tarde que irão ganhar muito mais dinheiro. Depois acabam por pagar o que devem, mais os juros. As empresas de crédito têm que ganhar algum e compensar os créditos que ficam por pagar.

Há um ou dois créditos dos quais dificilmente se pode fugir. A casa está no topo. Durante os últimos anos, aproveitando os juros baixos, muitos compraram casas acima das suas possibilidades. Agora, muitos desses, vivem em dificuldades.

Dos créditos que me parecem mais inexplicáveis são os concedidos para férias. Compreendo que as férias são importantes. em especial para descansar. Será preciso assim tanto dinheiro para se descansar? É preciso bastante dinheiro para se viver uma vida durante uma quinzena de dias, para a qual não se ganha o suficiente. Mal está quem precisa de tanto dinheiro para fugir da sua casa, que está por pagar, e esquecer a sua própria vida. Mas depois dessa fuga regressa-se à mesma vida, com mais uma dívida por pagar.

Sempre me habituei a poupar o dinheiro para comprar a pronto. Durante essa poupança, não raras vezes o objecto desejado mudou de forma, de modelo e até de preço. E isto leva a melhores compras, sem encargos extra para o futuro.

Atendendo a que tenho uma dívida de algumas dezenas de anos para pagar, peço que não me dêem mais crédito...