2014-09-28

Fracasso vocabular

Enquanto que para o fracasso alheio há sempre palavras que chegam e sobram para o caracterizar, normalmente para o meu são poucas. Ou nenhumas.
Mesmo que o fracasso não tenha dependido apenas de mim, a minha quota parte da culpa nunca fica solteira. Desculpar o meu fracasso com o fracasso alheio sempre me pareceu fraco. Muito fraco. E atribui-lo ao azar é aselhice.
Faltam-me adjectivos e desculpas. A falha fulanizada aponta imediatamente um culpado. Um culpado que é preciso punir, sem apelo nem agravo. E ao mesmo tempo sem qualquer julgamento justo.
A justiça, apesar de necessitar de rapidez se pretender ser justa, necessita de tempo para que haja distanciamento, uma vez que não se deve ser juiz em causa própria. E na própria causa a culpa ofusca qualquer razão.
Ainda que digam que o silêncio é preferível a proferir palavras sem sentido, mas como armas, para mim o silêncio não é de ouro. Ou ficaria rico após cada fracasso, motivando-me para projectar o próximo.
Entretanto, quando nada mais há para conversar, não há maior, e ao mesmo tempo mais justa, punição do que a ausência e respectivo silêncio.

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