2018-12-20

Incapacidade indiscutível

A comunicação entre humanos nunca foi simples. E nem estou a considerar as dificuldades impostas pela ausência de tecnologia capaz de desafiar o tempo e o espaço. Curiosamente a sensação que tenho é que, apesar dos meios de comunicação se terem tornado mais omnipresentes e acessíveis, a comunicação não se simplificou. Cada vez é mais difícil transmitir a mensagem. Cada vez mais os interlocutores estão indisponíveis para receber a mensagem alheia. Quanto mais pensar sobre ela. E ainda menos assimilá-la. Em especial se a mensagem aparentar ser contra as respectivas ideias. Os interlocutores esforçam-se por salientar as divergências em vez de aproveitar as convergências para um diálogo significativo. Este duelo de egos, leva à tentativa de vitória a todo o custo, não olhando a meios. Leva ao arremesso de argumentos que nem deviam ser chamados ao palco, quanto mais transformarem-se em actores principais. Leva ao eclipse da verdade, em vez de lançar luz sobre a mesma. Há uma irritação associada ao pensamento diferente. Uma irritação que se cola ao emissor da mensagem e não à mensagem propriamente dita. Às próximas transmissões, a memória busca as sensações desagradáveis e amplifica-as. Pouco parece importar se a mensagem é mais ou menos agradável. O asco surge muito mais rapidamente do que os lampejos do pensamento racional. O animal racional parece cada vez mais toldado por impulsos primários e pouco racionais. E isso transmite-se à sociedade onde cada indivíduo contribui para a tendência geral. E a tendência geral é de desprezo pelo outro e de tentativa de apagar a respectiva mensagem. Houvesse um botão para «desamigar» ou «des-seguir» o outro no mundo real... E não me venham dizer que estou errado...

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