2015-07-09

Requiem próprio

Porque vivemos numa cultura que enfrenta a morte de alguém que nos é próximo com tanto luto e dor? Choramos por quem parte desta vida ou por nós próprios e pelo sentimento de perda que nos provoca? Até as pessoas mais religiosas que acreditam que quando morremos, partimos para outra etapa na vida da nossa alma, parecem não encontrar nisso consolo suficiente. Se a falta de consolo for motivada por egoísmo ou pela negação do acontecimento, ainda haverá desculpa. Creio que poderá também resultar de uma fé abalável. Falta-nos um espírito que aceite aquilo que é. Isto, independentemente da nossa concordância ou gosto. O sofrimento resulta da confrontação entre o que desejávamos que fosse e o que na realidade é. E o que é, por evidente força maior, em caso de morte, não pode ser alterado. E não adianta pensar como seria se tivesse sido de outra forma. Não foi. Não vale a pena gastar recursos em cenários hipotéticos impossíveis de alcançar. Por maior que seja a nossa vontade. E ainda que se trate de uma morte anunciada com prazo marcado, a dor não parece ser reduzida pela capacidade de planeamento. Talvez até piore pois há a tendência para imaginar como será. A morte está anunciada desde o início para todos os seres vivos. Temos mais que tempo para nos preparar para o inevitável. Devemos aumentar o prazo naquilo que estiver ao nosso alcance e não nos martirizar com o resultado daquilo que de nós não depende. Tão simples e tão difícil de implementar. Quando a altura chegar, foquemo-nos nos sentimentos positivos. Não deixemos o nosso egoísmo vencer e aproveitemos todos os momentos para conviver com os que nos são próximos. E com os outros também. Depois, não adiantará chorar. Só se for para desabafar.

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