2007-12-16

Exposição 32

Foi pérfida!
A indicação da morada leva-nos a uma janela da Panificadora do Chiado...
Adiante, em direcção ao Largo, lá chegámos.
Tudo grandioso e escuro como o interior da casa, com as magníficas janelas e portas tristemente entaipadas.
Bastante vazio, como a casa. Coisas velhas e avulsas espalhadas.
Algumas fotos impressas sem cor.
Um mapa de Portugal em relevo. Nada sobre São Bernardino, nem sobre a Quinta.
Finalmente uma sala ainda mais escura e mais vazia. Na tela projectava-se o tal documentário especulativo e desconstruído.
O documentário ainda valeu a pena a ida e a entrada gratuita, apesar de muito especulativo e bastante desconstruído.
Deu para ver algumas caras conhecidas lá da terra e apanhar algum rasto de plausabilidade.
Fiquei com vontade de actualizar a página.
Pena que passe depressa...

2007-12-14

Exposição

Até há quem exponha sobre a Quinta do Gato Cinzento:
Exposição em Lisboa

Pensei que fosse só eu a mostrar umas fotos numa página:
fotos da Quinta do Gato Cinzento

A malta divulga pouco e sonha muito...

2007-11-24

Não me dêem crédito

Uma das coisas mais valiosas que recebi dos meus pais foi o não querer ficar a dever nada a ninguém. Não sendo eles, nem eu rico, a maior parte das vezes isto obrigava a reduzir as despesas. Mantendo as despesas em níveis compatíveis com os rendimentos, não é necessário ficar a dever.

Esta «riqueza» não é partilhada por muitos, nos dias que correm. As pessoas esquecem-se das prioridades. Vivem em função de necessidades que nem sempre são reais. As empresas de crédito florescem. A analogia melhor seria com ervas daninhas. Elas não dão flor e muito menos frutos.

As pessoas talvez não se esqueçam. Preferem pensar no prazer em comprar, esquecendo as provações de pagar. Principalmente, ignorando que, se neste momento não ganham o suficiente para pagar certos luxos, não será mais tarde que irão ganhar muito mais dinheiro. Depois acabam por pagar o que devem, mais os juros. As empresas de crédito têm que ganhar algum e compensar os créditos que ficam por pagar.

Há um ou dois créditos dos quais dificilmente se pode fugir. A casa está no topo. Durante os últimos anos, aproveitando os juros baixos, muitos compraram casas acima das suas possibilidades. Agora, muitos desses, vivem em dificuldades.

Dos créditos que me parecem mais inexplicáveis são os concedidos para férias. Compreendo que as férias são importantes. em especial para descansar. Será preciso assim tanto dinheiro para se descansar? É preciso bastante dinheiro para se viver uma vida durante uma quinzena de dias, para a qual não se ganha o suficiente. Mal está quem precisa de tanto dinheiro para fugir da sua casa, que está por pagar, e esquecer a sua própria vida. Mas depois dessa fuga regressa-se à mesma vida, com mais uma dívida por pagar.

Sempre me habituei a poupar o dinheiro para comprar a pronto. Durante essa poupança, não raras vezes o objecto desejado mudou de forma, de modelo e até de preço. E isto leva a melhores compras, sem encargos extra para o futuro.

Atendendo a que tenho uma dívida de algumas dezenas de anos para pagar, peço que não me dêem mais crédito...


2007-09-10

Mad about Maddie

Estive quase para colocar um texto sobre este assunto há um mês e tal, mas pensei que, entretanto, o assunto fosse esquecido. Resolvido, nunca me passou pela cabeça.
Toda a gente comenta e não há cão nem gato que não comente. E quem sou eu a menos que esses animais?

Das poucas entrevistas ao público anónimo que ouvi que faziam algum sentido, ou seja, mais sentido que perguntar a alguém por que é do Benfica ou do Fê Quê Pê, foi uma inglesa lá da terra deles que disse que, se fosse um dos filhos dela a desaparecer, que perderia a guarda dos restantes...

Além dos irracionais mais de vinte minutos iniciais dos telejornais, os jornais também não largam o tema. Mesmo quando na maior parte dos dias nada mais há a acrescentar, a não ser banalidades. Há um batalhão de repórteres que abandonou o Algarve (ou será Allgrave?) e rumou às ilhas britânicas.

Mais irracionais serão aqueles que, trocando um dia de praia ou de qualquer outra coisa útil, passaram horas à frente da Judite de Portimão para verem ao vivo esta ou aquela personagem vítima/criminosa. Coloco as duas hipóteses porque não haverá muita gente que saiba qual delas será a correcta. E eu não serei uma delas.
Esses seres irracionais provavelmente numa primeira fase eram grandes apoiantes. Agora talvez sejam grandes «vaiantes». Deixam-se levar pela emoção. Vêem tal espectáculo como quem vê uma obra de ficção. Seguem os capítulos cheios de comoção, ignorando que, na realidade, alguém sofre realmente. E bastante mais que eles. Para eles basta desligar a televisão...
Se eles quisessem... Mas preferem não desligar. Preferem seguir e engrossar a histeria. A tal histeria que enquanto foi favorável foi alimentada. Quando se tornou desfavorável, foi escorraçada. Mas não se foi embora. Pelo contrário...

Como programa de fundo "Prós e contras" - RTP1...

2007-09-03

Erro infantil

Normalmente são erros que acabam por se pagar caro. Nem sempre quem os paga é quem os comete e a linha temporal poderá ser extremamente comprida.
A educação deve ser dada em casa e não apenas na rua, nem apenas na escola.
A educação deve ser dada pela família e não apenas pelos colegas, nem pelos professores.
As crianças compreendem como podem lucrar com as infantilidades dos pais. Aparentemente lucram. Realmente, nem por isso.
Cada vez que os pais desautorizam outras autoridades, desautorizam-se a si mesmos. E nem se apercebem.
Cada vez que fazem uma ameaça ou promessa vã, caem em descrédito. Não crêem que tenha imediato efeito. Julgam encontrar uma fuga de uma situação da qual não podem escapar. E quanto mais fogem, menos lhe escapam.
O exemplo e a coerência são das melhores ferramentas, nem sempre aproveitadas por uma sociedade que prefere facilidades ao trabalhar sobre as dificuldades.
Até no tratamento dos familiares mais idosos, preparam-se os alicerces para o tratamento dos próximos familiares idosos.
Confunde-se o prazer com o bem-estar. Confunde-se o essencial com o acessório. Confunde-se a caducidade com a perenidade.
Tomando as crianças por tolas, tornamo-las tolas...
E esse é o erro infantil maior.

2007-05-27

Pausa rotineira

Ou como certos prazeres se transformam em certos hábitos...

E quando se transformam em hábitos, reduz-se o prazer. Mas há que manter a atenção dos leitores. Há uma obrigação a cumprir. Há que escrever ainda que nada haja para escrever. Ainda que apenas se escreva que nada se escreve. Uma afirmação algo ridícula que esconde a necessidade de escrever e a simultânea falta de inspiração.

A inspiração não aparece todos os dias. Muitas vezes disfarça-se mostrando atalhos ou referências para a inspiração de outros. Não se pode interromper a rotina. Não se pode correr o risco de perder a atenção dos leitores. Nem que seja necessário recorrer a imagens. De vez em quando recorre-se a uma simples afirmação de que hoje nada se escreve.

É um esforço vão pois é inevitável a falta de inspiração. A inspiração diária é um luxo de alguns iluminados e de muitos com tempo para a sustentar. É necessária muita atenção e muito tempo. E algum trabalho. E poucos são pagos para tal trabalho...

Fonte de onde não sai água é fonte seca. É fonte que não serve para matar a sede. É fonte que os necessitados não procuram. É fonte abandonada.

E quem quer ser abandonado?

2007-05-13

Monstros em companhia

Normalmente, os monstros que me acompanham na minha vida, não vivem debaixo da cama. Moram por cima, noutro andar.

Ultimamente tenho sido perseguido por uma autêntica família. O monstrai, parece ser o menos agressivo. O que menos incómodo causa.

A monstrãe, tem uma passada vigorosa. Tão vigorosa que estremece o meu tecto. Ela estende roupa, limpa a casa (imagino), sacode os tapetes para os quintais e janelas dos vizinhos e sei lá que mais. Começa o dia cedo. Hoje começou antes das nove. Durante a semana é por volta das sete. De vez em quando, a meio da noite, vai à casa-de-banho. As coisas que eu acabo por ficar a saber sem sair de casa...

O monstrilho é um poço de energia. Não sei o que ele toma, mas talvez devesse perguntar-lhes. Mas isso significaria enfrentar os meus monstros... Ele corre, pula, arrasta, salta, grita...

Já fui perseguido por um monstrurdo. Felizmente, só ocasionalmente dou por eles a passarem de carro. Nalgumas noites menos afortunadas, tenho a oportunidade de perceber que vivo perto de um ou dois monstrurdos. Mas, mesmo que me cruze com eles, felizmente, não sei quem são. São uma espécie bastante disseminada por todo o território nacional.

Agora vou pegar no meu martelo eléctrico. Apesar da hora, posso transformar-me num monstrobreiro. Quem disse a vocês que eu não posso ser o monstro de algum dos meus vizinhos?

2007-02-04

O bom português

- Tem a certeza?

- Não sei. Acho que sim...

Ora isto é ou não uma resposta de bom português? Não sabe se tem a certeza. Ora isso significa exactamente que não tem a certeza. Ou que não tem a firmeza para suportar aquilo que sabe.

O bom português é simples. Não gosta de entrar em polémicas. Não gosta de dar a cara por uma posição menos popular. Não gosta de ter chatices...

Apesar de humilde, não tem a humildade de, apanhado de surpresa, apenas reconhecer que não sabe ou que não tem a certeza. Então, também como bom português, arrisca a dar um palpite. Prefere errar a mostrar que não sabe. E não quer ver que errar também é demonstrar que não se sabe. Mas pelo menos tentou. E como bom português, fica-se pelas palavras...

2007-01-29

Que frio

Depois de vários dias a referirem a vaga de frio que trazia valores normais para a época, chegou finalmente o frio. E que melhor forma de o assinalar que falar sobre ele e sobre a gripe. Naturalmente alguns jornalistas não resistem a tornar esse assunto ridículo. Depois de finalmente terem razão em relação ao frio, tentam ter razão em relação à gripe. Talvez se tenham tornado em fazedores de notícias a quem nem o clima lhes resiste...

Assim, há poucos dias, previa-se a chegada do vírus da gripe. Esperava-se que ele chegasse mais cedo e mais forte, resultando num ligeiro pico. Ligeiro pico?!

Parece que já estou a ver os jornalistas a amontoarem-se (sim, aos montes) à volta do vírus da gripe, na porta das chegadas de um aeroporto nacional.

- “Afinal chegou mais cedo. Sente-se mais forte?”

- “Sim, claro!” – dito com um qualquer sotaque sul-americano – “Sinto-me mais forte nesta época e pronto para vencer.”

- “O Ligeiro Pico F.C. fez tudo para que chegasse mais cedo. Está feliz com isso.”

- “Claro! Vim para ajudar o Pico a crescer e quero retribuir a esta massa maravilhosa que me espera. Espero contagiá-los a todos!...”

2007-01-28

Post fora de época

Espírito natalino

2006-12-24

Já não é o que era. O que tanto é válido para isto como para tantas outras coisas...

É uma constatação anual. Não há grandes mudanças de ano para ano, mas as pequenas, todas somadas, acabam por dar nas vistas quando olhamos para trás.

Foi uma coisa tão banal como observar os filmes escolhidos para esta época de uma estação de televisão: tubarões assassinos gigantes, tiros e explosões, artes marciais, etc. Curiosamente, talvez aquele policial futurista seja o que está mais próximo do Natal. Apesar de tudo, prefiro esta grelha àqueles filmes lamechas de época... Mas não deveria ser preciso passar de um extremo ao outro.

Esta meditação foi efectuada na véspera de Natal, ao som do álbum Kill ‘em All dos Metallica.

Sim, porque sim

Porque outra razão poderia ser? A argumentação quer de um lado quer do outro tem, salvo raras excepções, escapado à questão essencial. O que acaba por ser natural, dada a natureza da questão colocada. Atendendo à questão a argumentação torna-se ainda mais fraca: despenalizar porque não se pode mandar para a prisão mulheres que abortaram ilegalmente. Curiosamente, coloca-se um prazo. Afinal as mulheres continuam a poder ir para a prisão. Basta que abortem depois das 10 semanas de gestação. Obviamente esta proposta para legislar não manterá as mulheres longe da prisão. A argumentação que se ouve agora voltará a ouvir-se daqui a uns anos.

Outra argumentação é o combate ao aborto clandestino. Mais uma vez o sim não dará resposta. Continuarão a recorrer ao aborto clandestino as mesmas mulheres que hoje recorrem.

A verdadeira questão, à qual quase todos parecem querer fugir é se o ovo, o embrião, o feto têm direito, igual ao da futura mãe, de viver. Como a questão não é pacífica, procurou-se o (impossível) consenso: decide-se que há um período durante o qual apenas a mulher grávida tem direitos. E isso dá-lhe o poder arbitrário de decidir se prossegue a sua gravidez ou a interrompe. Porque é que ela pode decidir pela interrupção? Porque sim. É quanto basta.

Os defensores deste poder arbitrário dizem que é para que a mulher possa decidir sozinha pois ela é que sabe. Precisamente por estar sozinha é que ela é empurrada para esta solução. Cegamente não reparam, ou não querem reparar que esta solução ainda é mais a favor dos homens que deixam estas mulheres sozinhas. Provavelmente, caso venha a haver uma lei baseada neste porque sim, terá igualmente de haver uma despenalização do pai que não quer cumprir as suas obrigações...

Há quem veja na necessidade da alteração desta lei uma resposta ao falhanço da educação sexual. Seria um pouco como despenalizar o excesso de velocidade nas estradas dado que não se conseguiu educar os condutores a respeitar o código da estrada... A malta pode não ser educada, mas tem sexo e guia velozmente. O resultado é uma questão de sorte. Algumas vezes, de morte...

Gostei de ver há uns anos uma fotografia de uma jovem que mostrava a sua barriga e tinha lá escrito qualquer coisa do estilo: aqui mando eu! Pois é aí que reside o erro dessa jovem e de muitas pessoas. Se realmente mandasse, nunca haveria necessidade de abortar...