2019-11-26

Armados em destruição maciça

A massificação da informação leva à massificação dos desejos. Desejamos o que há de melhor. E o que há de melhor é cada vez mais o mesmo para cada um. E para todos. Todos querem ir aos mesmos locais, nem que seja apenas para marcar território, qual cão. Captam e mostram a foto que serve de prova, quase sem prestarem atenção onde estão, talvez pensando imediatamente onde gostariam de estar. Nesta feira de vaidades, os locais mais conhecidos são sobrecarregados. São espezinhados. Os locais que partam se não suportarem o preço e o custo de servirem de adorno supérfluo para o cenário. Todos querem degustar a melhor iguaria, a todo o preço e a todo o custo. Não importa se isso levar ao seu desaparecimento para todo o sempre. O que importa é, mais uma vez, apresentar uma prova da degustação. Que cada vez mais se parece com uma prova de destruição, nesta fruição desmesurada. Importa mais viver para comer do que comer para viver. Por outro lado, cada vez mais se ambiciona um super-alimento que tudo resolva. Incluindo a péssima alimentação causadora de múltiplas perturbações de saúde. Não importa se isso custar o desaparecimento de todos os restantes alimentos. E com eles, as respectivas benesses para uma alimentação variada, base de uma alimentação saudável. Pobre animal que caia nas garras da «medicina» tradicional chinesa ou de qualquer outro país populoso. Será ameaçado de extinção, como se para isso não bastasse a usurpação do seu habitat e destruição dos seus meios de subsistência. A escassez de um recurso leva ao aumento da compensação pela sua exploração até ao seu desaparecimento. Que o digam os verdadeiros pinguins do hemisfério norte… A massificação leva ao desdém pelo que fica nas margens, apenas dando valor à corrente principal. Corrente onde cada vez há mais gente presa, incapaz de apreciar e celebrar o que é próprio da sua região. O comércio local desaparece ao mesmo ritmo que a voracidade de um punhado de multinacionais tudo devora. Idem para os recursos naturais necessários para sustentar esta vida cada vez mais artificial. Longa vida para os eucaliptos de curta duração e morte para os carvalhos que empatam o investimento com a sua longa vida e lento desenvolvimento. Felizmente vem aí mais uma sexta-feira negra, daquelas que em nada se compara com a quinta-feira negra que a antecedeu. Seria como comparar o dia com a noite. Nós deliramos com coisas brilhantes…