2011-03-20

Emplastros do nosso descontentamento

Cada vez mais me convenço que os Homens da luta estão para as manifestações como o Emplastro está para uma entrevista na rua (na zona do grande Porto).
Parece que, qual abelhas atraídas pela doçura de um néctar, também estes homens são atraídos pelo aroma do descontentamento. Caricaturas anacrónicas, popularizadas ao fim de algum tempo de destilação no alambique que é a SIC Radical. Saltaram para o estrelato recentemente, colando-se ao descontentamento legítimo, ajudaram a inebriar os descontentes. Ao mesmo tempo servem de distracção de qualidade duvidosa que a malta mais nova aprendeu a apreciar. Tal como um qualquer Zé Cabra numa qualquer semana académica suscitasse animação e alegria, estes Homens da luta terão os seus meses de glória. Depois serão remetidos para um recanto escondido da nossa memória colectiva.
O descontentamento poderá ser bom se provocar uma onda de regeneração do nosso país. Enquanto for semelhante a uma birra de um qualquer miúdo mimado perante algo que contraria a sua vontade, não chega.
Fiquei com os ouvidos cheios de tantos jovens qualificados que se encontram à mercê de exploradores, porque não foram capazes de resolver o problema da criação do seu próprio posto de trabalho. Não souberam capitalizar o seu lado artístico num qualquer programa de apanhados mal amanhados e ressurgirem como ícones do protesto social.
Talvez porque as gerações imediatamente anteriores, fartas de trabalhar por vidas melhores, resolveram oferecer a esta tudo numa bandeja de prata, ocultando que só o trabalho é fonte de progresso. E quanto mais organizado e focalizado for, mais produtivo se tornará e mais postos de trabalho e riqueza gerará.
Mas não há dúvida que também temos que destruir e reconstruir este monstro estatal que nos suga de todas as maneiras e feitios...

2011-03-08

Com a miséria dos outros podemos nós bem

Vivemos bem porque pertencemos a uma minoria da população mundial. Uma minoria bem sucedida que nem imagina como a maioria (sobre)vive.
Numa época em que a pressão sobre os recursos mundiais ainda é, para nós, suportável, choramingamos quando nos falta dinheiro para comprarmos mais umas coisas. Muitas das quais perfeitamente dispensáveis, tal como o são as coisas supérfluas.
Uma crise aqui, uma guerra ali, um furacão acolá, um terramoto além. São as desculpas para um facto indesmentível: os recursos mundiais não chegam para todos. Não chegam para todos viverem como nós.
E nem sequer é necessário que entre na equação as chamadas alterações climáticas.
Basta ver o desenvolvimento rápido que se vai sucedendo nalguns países do globo. As populações exigem e pagam para viver como a nossa minoria. E esse desejo, que não podemos, independentemente da nossa vontade, cercear, aumentará ainda mais a pressão sobre os recursos. E se a nossa minoria é tão pouco eficiente sobre os mais diversos aspectos, como vamos obrigar a maioria a não cometer os mesmos erros? Impedir que se tornem tão esbanjadores como nós?
A maioria não vai aceitar por muito mais tempo que uma minoria viva bem, enquanto ela vive na miséria...