Perdemos a conta a quantas esquinas passamos ao longo da nossa vida. Isto apesar de algumas terem deixado marcas indeléveis.
Mas não ficámos agarrados a elas. Ainda que a vontade fosse muita e, numa fase inicial, até marcas de unhas tenhamos lá deixado.
Seguimos o nosso caminho sem as esquecermos, sem as ignorarmos.
E
quando encontramos uma nova, não pensamos no que ficou para trás.
Tentamos imaginar o que poderá estar à nossa frente. O que poderá estar
para além dela. O que poderá acontecer se a dobrarmos. E essa
expectativa tem tanto de atractiva como de assustadora. A esquina
desconhecida exerce fascínio especialmente por isso. Pela dualidade. E
quando a encaramos de frente e vemos os dois lados ao mesmo tempo,
percebemos se chegámos à esquina certa.
Chegar à esquina certa,
não é o mesmo que chegar à esquina definitiva. Todas tendem a ser
provisórias, até prova em contrário. E essa prova cabe ao tempo. E é
preciso tanto tempo, quanto o tempo que nos for concedido, a partir do
momento em que lá chegamos.
De frente para a esquina, conseguimos
rever o percurso passado e tentamos antever o futuro. Após dobrá-la, não
ficamos com o dom da clarividência. Não ficamos cheios de certezas. As
dúvidas são suficientemente inquietantes para que não nos acomodemos,
não devendo impossibilitar-nos de pararmos ou avançarmos, consoante nos
aprouver.
É entre esquinas que mais claramente podemos reflectir. Não estando à sombra de uma delas, podemos melhor avaliar as que dobrámos e virámos. Poderá provocar algum desconforto, mas essa mesma sensação acaba por funcionar como motivação. Para avançar.
Após dobrá-la, podemos olhar para trás e verificar que, por mais marcas que lá possamos ter deixado, ela mantém a sua forma. E não adianta tentar lá voltar e bater-lhe com a cabeça. Acabaríamos ainda mais magoados.
1 comentário:
Excelente este texto - uma viagem interior de que precisamos.
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